Por Carlos Zucolotto Junior
A Câmara dos Deputados está analisando uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que propõe o fim do regime de trabalho na escala 6×1 — modelo que prevê seis dias de trabalho seguidos por um de descanso. À primeira vista, pode parecer uma medida voltada à melhoria das condições de trabalho, mas, ao aprofundarmos a análise, percebemos que ela representa um verdadeiro retrocesso tanto para os trabalhadores quanto para as empresas.
A escala 6×1 é amplamente adotada em setores que exigem operação contínua, como comércio, indústria, saúde, transporte, logística e serviços. Ela não apenas garante o funcionamento ininterrupto das atividades, mas também oferece, a muitos trabalhadores, uma forma mais flexível de organizar a própria rotina. Há quem veja nesse modelo uma imposição cansativa, e com razão, em alguns casos. No entanto, ignorar seus benefícios e propor sua eliminação sem oferecer alternativas viáveis é legislar de forma desconectada da realidade do país.

O trabalhador será o primeiro a sentir os efeitos negativos dessa mudança. A retirada da escala 6×1 compromete a previsibilidade de folgas e a organização pessoal e familiar. Muitos profissionais que atuam em turnos noturnos, por exemplo, dependem desse regime para complementar sua renda. Ao desconfigurar essa estrutura, a PEC pode aumentar a instabilidade, a rotatividade de funcionários e, pior ainda, abrir espaço para a precarização das relações trabalhistas.
Para as empresas, as consequências também são significativas. Sem a escala 6×1, haverá aumento nos custos operacionais, dificuldade para manter o atendimento em horários estendidos e maior complexidade na gestão de equipes. Empresas de setores estratégicos, como saúde e alimentação, podem sofrer impactos diretos na produtividade e na competitividade.
Em vez de extinguir um modelo amplamente consolidado, o foco deveria ser em garantir que ele seja aplicado com responsabilidade, dentro dos limites legais e com respeito aos direitos dos trabalhadores. A discussão precisa ir além do “acabar ou manter”. É preciso pensar em como adaptar as relações de trabalho às novas demandas da sociedade, promovendo dignidade, equilíbrio e eficiência.
É evidente que o mundo do trabalho está mudando. Mas qualquer mudança precisa ser construída com diálogo, e não imposta de cima para baixo. Reformas trabalhistas não devem ser feitas à revelia de quem realmente sente os efeitos dessas decisões: o trabalhador da linha de frente e o empregador que lida com as exigências do dia a dia.
Eliminar a escala 6×1 não é sinônimo de progresso. Pelo contrário: é uma medida que ignora as necessidades práticas de diversos setores e desestabiliza uma engrenagem que, apesar das falhas, tem se mostrado funcional. A modernização das leis trabalhistas deve ser feita com responsabilidade e sensibilidade — não com radicalismos que desorganizam mais do que resolvem.
* Carlos Zucolotto Junior é advogado.